Muitas pessoas acreditam que por nunca terem vivenciado um relacionamento abusivo, não precisam se envolver com esse tipo de assunto. Porém, essa é uma ideia equivocada, pois quanto mais se falar disso, mais as atitudes abusivas serão inibidas.
Além disso, algumas pessoas não se dão conta de que vivem ou já vivenciaram um relacionamento abusivo por não terem a noção do que exatamente configura esse tipo de relação. Então, esse é mais um motivo para falarmos do assunto.
Mas você entende, realmente o que é um relacionamento assim?
Um relacionamento abusivo traz desconforto e limitações excessivas para o companheiro, começa invadir e interferir abusivamente na vida pessoal, além da relação. Quando o outro te critica demais, nunca está do seu lado para te ouvir e apoiar, tenta controlar tudo o que você faz, onde e com quem está, te força a fazer algo que você não quer, te afasta de pessoas queridas e invade sua privacidade indica que isso está se tornando uma relação abusiva.
Observe que quanto mais abusivo se torna, menos feliz e tranquila fica a relação. Um começa a ter medo do outro, não se respeitam mais, não têm espaço para o diálogo, para as opiniões e começa a diminuir o afeto e amor, além de começar a afetar também a vida pessoal. Ou seja, na ilusão de que se está construindo um bom relacionamento, o casal acaba deteriorando tudo o que pode construir a relação saudável.
É claro que o abusador pode ser um homem ou uma mulher, mas pelo histórico social que vivemos a mulher é a principal vítima desses relacionamentos. Também é claro que, apesar de aqui estar falando mais a respeito de relacionamento de casal, relacionamentos abusivos abrangem todo tipo de relação, sejam elas familiares, de trabalho ou entre amigos. Isso quer dizer que em situações diferentes, pessoas podem estar vivendo com pessoas abusivas sem se darem conta.
Outro detalhe importante é que muitas pessoas acreditam que apenas quando ocorre agressão física é que o relacionamento se torna abusivo, o que não é verdade, pois nesses casos o abuso já passou para um quadro de violência – e violência pode ser tanto física, quanto psicológica.
As pessoas tem costume de achar que somente relações com violência física são prejudiciais, muitas vezes já ouvimos “pelo menos ele não me bate” ou quando alguém contou uma situação abusiva que está vivendo na relação, a primeira pergunta é “Mas ele te bateu? Não? Que bom, então tá tudo bem”, mas não está tudo bem.
Na conversa que tive com a minha amiga advogada, Andréia Rodrigues, sobre esse assunto – na live que está salva no meu IGTV no Instagram – ela explicou que o abuso e a violência podem ser moral, psicológico, patrimonial, físico e financeiro. Ela também explicou que as mulheres (e todas as pessoas que sofrem abuso e violência doméstica, num relacionamento) estão protegidas pela Lei Maria da Penha e destacou o quanto é importante buscar apoio e agir para coibir ações abusivas.
Para você identificar melhor se convive com alguém assim, ou até mesmo se tem uma amiga que precisa ser alertada, vou citar alguns comportamentos que são abusivos:
Distração - a pessoa tende a ser muito atenciosa, presente, interessada, de um modo tão intenso que fará com que o outro pense que está “sendo cuidado”, que aquela presença imposta constantemente é um verdadeiro sinal de amor, mas o que na verdade faz é manter seu alvo ocupado e sob controle o tempo todo.
Deslizes – a pessoa faz discursos moralistas, como se fosse a pessoa mais correta do mundo, mas em meio ao discurso, sempre deixa escapar alguma coisa que vai na contramão do que prega.
Alienação - interfere ou corta de vez as relações do companheiro com os outros (amigos, família, colegas de trabalho), distanciando de qualquer possibilidade de apoio.
Culpabilização – faz o outro se sentir culpado o tempo todo, por tudo o que acontece, identificando-a sempre como responsáveis pelos problemas.
Excesso de proteção – a pessoa demonstra que tem amor e carinho por estar cuidando, acompanhando e vigiando, mas o foco é no controle do outro.
Desigualdade – a pessoa sujeita o parceiro a uma séria de regras que ela não se sente na obrigação de seguir.
Bullying – envergonha o parceiro em frente a outras pessoas, ridicularizando seus pontos sensíveis ou criando histórias constrangedoras com seu nome.
Traição - envolve-se em relacionamentos românticos ou íntimos com outras pessoas estando comprometido.
Críticas pejorativas – faz críticas que diminuem e fazem o outro se sentir incapaz ou desanimar de seus projetos pessoais.
Limitação – impedir e impor limites ao que outro quer fazer.
Chantagem emocional – faz ameaças e punições por trás de uma aparência fragilizada de vítima, na tentativa de controlar os comportamentos do outro.
Vale deixar claro que há diferença entre relacionamentos abusivos e relacionamentos tóxicos, pois esses não necessariamente são abusivos. Podem até se tornarem abusivos, mas não ocorrem abusos para indicar que são relações tóxicas. As relações tóxicas estão mais ligadas e forma como as relações se estabelecem como por exemplo com inveja ou desconfiança. Ou seja, nem toda relação tóxica tem abuso, mas todo relacionamento abusivo é tóxico.
Psicologicamente o relacionamento abusivo pode interferir na autoestima e autoimagem, trazendo a vergonha, o enfraquecimento e a sensação de estar presa à situação, sem saída. Também pode tirar o ânimo e afetar o humor, trazendo uma profunda tristeza e angústia, além de raiva.
Além de interferir na saúde mental, também pode passar a interferir na saúde física como reflexos de todo mau-estar e tensão que é vivenciado. Quadros de depressão, ansiedade, perda de concentração e foco, gastrite, tremores, hipertensão arterial, entre outros, podem surgir em decorrência de relações abusivas duradouras.
A pessoa que sofre com esse tipo de relacionamento tem uma percepção limitada do pertencimento, acaba achando q não vai conseguir ter uma outra pessoa, viver melhor ou sair dessa situação. Ou ainda, envolvida pelo abusador, acredita que não haverá outra pessoa que a ame. A dependência emocional muitas vezes é a principal responsável por uma mulher se manter em um relacionamento abusivo, além da dependência financeira.
Muitas mulheres já passaram por relações abusivas e só se deram conta depois de um tempo, ou até quando a relação já havia terminado. Então, fique atenta para não se deixar levar por uma relação assim e ofereça apoio, se você conhece alguém que precisa lidar com isso.
Relações saudáveis existem!
Para compreender melhor o que esperar de uma relação saudável destaco que um bom relacionamento é quando o outro tenta compreender seu ponto de vista, respeita sua história e privacidade, te apoia em seus projetos, está sempre disponível para te ouvir e conversar, não te força ou induz a fazer coisas que você não queira. Se você não tem vivido isso em seu relacionamento, não pense que é impossível. Relações saudáveis existem, só é preciso estar com a pessoa certa e aprender a se relacionarem melhor.
Não deixe de buscar ajuda tanto de familiares e amigos, quanto de profissionais para atravessar e vencer uma situação de abuso. Você merece uma relação de tranquilidade, paz e amor!
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