A vida tem momentos bons e ruins, situações difíceis e outras mais fáceis, algumas felizes e outras tristes ou irritantes. Algumas pessoas até compreendem que isso faz parte do ciclo da vida, mas evitam fortemente os momentos tristes e não aceitam que durem mais do que algumas horas. Isso se justifica porque somos cercados pela ideia da Ditadura da Felicidade, uma perspectiva cultural de que só a alegria pode trazer plenitude, uma ideia que todas as pessoas são sempre felizes e que devemos buscar felicidade a todo custo.
Às vezes está tudo fluindo na vida, mas a sensação é de que estamos sob um céu nublado. Não é necessário ter acontecido algo trágico para vivenciarmos sentimentos de tristeza e mau humor. Ou mesmo quando as coisas estão mais difíceis paira no ar uma cobrança de solução rápida e de disfarce de que está tudo indo bem e feliz. A verdade é que a alegria não é um estado que nos acompanha constantemente.
Mas será que precisamos estar sempre felizes e de bom humor? Será que os sentimentos ruins também não fazem parte da vida? O que é a felicidade?
Felicidade é a qualidade ou estado de alegria, uma consciência de satisfação e contentamento que promovem uma sensação de bem-estar. Cada pessoa vivencia a felicidade de uma forma e a cada momento da vida ela se representa em algo específico – ter sucesso na carreira, ter um parceiro ou parceira especial, aproveitar a natureza, etc. Nesse processo muitas pessoas acabam comparando suas vidas, conquistas e desejos com outras pessoas e acabam se sentindo insuficientes...
Já pensou nisso: Para você, o que é felicidade?
“A felicidade não é deste mundo”, diz o livro Bíblico de Eclesiastes. Isso quer dizer que não há felicidade duradoura, pois a alegria é um momento, algo passageiro. Para o jornalista Jorge Fernando dos Santos a negação da infelicidade é uma das molas que impulsionam o consumo na sociedade contemporânea, assim a cultura moderna nega ao homem o direito de sofrer. Nessa expectativa de vida feliz e plena sem a compreensão dos momentos de angústia e dor, se provoca mais mau-estar do que o contrário.
A sociedade de consumo e de bem-estar dita que ser feliz é um dever que precisa ser cumprido. Esta Ditadura da Felicidade é marcada, muitas vezes, por um reducionismo perigoso, que na prática consiste em poder consumir e gozar de todas as facilidades promovidas pela cultura do bem-estar e mascarar nossos medos e derrotas.
A pessoa que se programa para ser feliz, a todo instante, não consegue lidar com o fracasso, com a frustração, com a incapacidade e nem com a ineficiência. Nossa vida consiste na alternância constante entre momentos de felicidade e de infelicidade. Você precisa ter o luto das derrotas e frustrações para aprender a se reerguer e fazer novas escolhas.
Os serviços de marketing e propaganda têm na promoção de prazer seu instrumento de trabalho, por isso acabam tratando a vida como um lugar de prazeres imediatos, sem espaço para o sofrimento - o que pode aumentar as vendas, mas produzir tédio e vazio existencial. Essa é uma das razões, por exemplo, para o aumento do consumo de calmantes e antidepressivos, soluções instantâneas e momentâneas para aplacar as angústias da vida; também é o que ocorre muitas vezes com as compulsões por compras, alimentos e drogas: o consumo que põe em outros lugares a tristeza e a dor de não ter respostas para as grandes perguntas.
O filósofo Soren Kierkegaard sabiamente ensinou que a angústia é um dos elementos da essência humana, não saber aceitá-la como algo natural é o que pode nos conduzir à verdadeira infelicidade. As emoções negativas como a raiva, a tristeza, o medo e a ansiedade são necessárias para nós. Por falta de autoconhecimento e inteligência emocional, quando as sentimos as rejeitamos e isso faz com que se intensifiquem e que o pânico e o mau-estar nos domine. Ao bloquearmos uma emoção negativa, também bloqueamos o fluxo das positivas.
Não é possível estar feliz sempre. Compreender e aceitar isso, não significa não buscar alegrias e se resignar na infelicidade, mas saber lidar com os momentos infortúnios e negativos sabendo que, assim como os positivos, eles são passageiros.
O significado da felicidade tem relação com as expectativas de cada pessoa para sua própria vida. De todas as expectativas que se pode ter, a mais perigosa é acreditar que se pode estar constantemente alegre, em evidência e com sucesso. Como disse o doutor em Psicologia, Tal Ben-Shahar: “A obsessão por ser feliz o tempo todo faz as pessoas se sentirem péssimas!”
As redes sociais influenciam bastante nessa Ditadura da Felicidade, mostrando rostos felizes, trabalhos exemplares, belos relacionamentos, passeios maravilhosos... Quando sentimos tristeza ou ansiedade, surgem as comparações e essas imagens reforçam nossa ideia de que estamos fazendo algo de errado e de que deveríamos estar em outro lugar na vida. Há uma pressão social para sermos felizes e, para muitas pessoas, admitir-se infeliz é experimentar a sensação de vergonha, culpa ou fraqueza diante de si e dos outros que se dizem felizes.
Assim como o que se mostra na internet que captura momentos, a vida é feita de momentos e todos vivemos numa montanha russa emocional. Isso é inevitável e, ao contrário do que parece, não é ruim, pois nos ensina e prepara para as situações da vida.
A felicidade está no caminhar, se você não foca em si mesmo e nas belezas da sua trajetória, não vê a felicidade nas coisas simples da vida e terá mais dificuldade em vivenciar suas dores e se alegrar com suas curas.
É importante exercitar seu autoconhecimento e se valorizar mais, melhorando sua autoestima, cultivar relacionamentos sadios e se afastar de pessoas e estímulos que te fazem se sentir mal, identificar seus propósitos, o sentido do que é felicidade para você, encontrar sentido no que faz e ter espaço para o lazer e descanso, pois a recuperação do estresse diário é muito necessária. Detalhe: não vale só ler um best-seller de autoajuda ou seguir um instagram legal que te leva a reflexões, é preciso uma ação em prol de si mesmo.
Mas acima de tudo é preciso compreender que os momentos tristes fazem parte da nossa formação humana. É importante sofrermos e aprendermos a curar nossas feridas, manter o luto e levantar-se depois de uma queda. A vida é feita de momentos alegres e tristes. Ser feliz é preciso, mas sofrer é vital para nossa evolução.
Você já se viu escravo dessa Ditadura da Felicidade?
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